O texto e a encenação de "A Velha Casa de Madeira", por José Caldas.



A VELHA CASA DE MADEIRA
(Ou a máquina do tempo)

O texto

O Teatro do Montemuro desafiou-me a escrever um texto sobre o encontro entre um velho e uma criança e os conflitos que dele surgissem. Desafiei-os a ser um encontro entre um menino e uma velha senhora. E assim foi.
Inspirado no realismo mágico de Ray Bradbury, meu autor do coração; na minha poeta predilecta Cecília Meireles e o seu jogo encantatório de palavras; no humor truculento dos Contos Tradicionais Portugueses e nas conversas com senhoras idosas fui compondo este texto. Varias sequências que foram se entretecendo com a delicada música Mary Keith – palavras musicais, música poética. Um texto evocativo da minha infância e da intimidade com a minha avó, as suas estórias e -
(...)“ A Estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, as vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.(...) João Guimarães Rosa.
- a sua insubmissão ao poder patriarcal. Assim este texto está mais próximo da estória - os casos narrados pela velha senhora – “máquina do tempo”. Ela viaja pelo passado sem nenhuma lógica histórica. Na verdade são apenas fragmentos de poesia e de transcendência, trincadas na maça da vida, das   memórias e  das sensações.
As visitas do rapaz a esta grande mãe isenta de paternalismo é um itinerário iniciático com o passado, o presente e um futuro  para além da morte – uma viagem pelas estrelas com a misteriosa poesia de Jorge Sousa Braga.

A encenação

Um teatro para a infância com a confiança e o respeito pela inteligência  do seu público. Um trabalho ao ritmo de várias leituras que poderão interessar também os seus acompanhantes – os adultos. Sem concessões ao infantilismo ou a papa-feita.
Encontrei nos actores esta ressonância: um teatro para um público jovem, mas antes de tudo Teatro.
Três actores em cena, a representar Tal como no  “faz de conta” das crianças – estas precursoras do próprio teatro com o seu jogo distanciado: “agora faço de velha”, “agora sou o menino”, “agora faço de velho”...
Assim uma jovem actriz  faz de conta que é  uma velha senhora fugindo a sete pés aos clichês. Dois actores de 40 anos entram também neste jogo e fazem-se de meninos.
A cenografia imaginada com o Purvim  e a Ruby  torna-nos viajantes nesta máquina do tempo onde a velha senhora habita. Passado, presente e futuro entrelaçam-se no jogo extra quotidiano pontuado pela presença do actor, sonoplasta, iluminador, músico e  projecionista deste  cinema transcendental. Deixamos tudo como um desafio  a ser decifrado pela imaginação dos jovens espectadores .

José Caldas

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